O tema do texto de hoje são distúrbios alimentares, mais particularmente bulimia. Os distúrbios alimentares nos dias hoje são algo comum a um nível preocupante, especialmente em adolescentes e mulheres mas podem incidir em todas as idades e qualquer género.
Estas doenças embora possam e costumem ter consequências físicas, são do forro psicológico, assim pode ser resultado de culto excessivo à imagem, baixa autoestima, maus hábitos alimentares, questões hormonais, distúrbios emocionais etc...
Os ambientes socioculturais em nos inserimos também influenciam bastante estas condições, especialmente nos dias de hoje em que é feita propaganda ao "corpo perfeito" e em todas as revistas se vê anúncios para perda de peso e modelos com físicos esculturais, mesmo sabendo que algumas das fotografias são editadas e aqueles corpos não são reais ou que todos temos corpos diferentes e há coisas que não conseguimos mudar em nós, damos por nós a olhar para os instagrams das modelos, atrizes e influencers a desejar sermos iguais a elas e dispostas a fazer tudo por isso.
Pode começar como dietas inofensivas, para perder o peso a mais, ou ir mais ao ginásio, comer de forma mais saudável, e claro que nisso não existe nenhum problema, o problema começa quando não encontramos o equilíbrio e começa nesse momento o tema dos distúrbios alimentares, com comportamentos que não são saudáveis ou extremistas, a bulimia é um destes casos.
A bulimia é um distúrbio alimentar no qual uma pessoa oscila entre comer exageradamente, com um sentimento de perda de controlo sobre a alimentação, e episódios de vômitos ou abusos de laxantes para impedir o ganho de peso. O comportamento bulímico pode associar-se a desequilíbrios químicos no organismo, devido à ingestão e eliminação inadequada de nutrientes. Assim, pode levar a um quadro de ansiedade, que faz a pessoa procurar maneiras bruscas de perder peso rapidamente, ao mesmo tempo que procura conforto na comida.
Para finalizar e perceber melhor o que se passa na cabeça de alguém bulímico, apresentamos este testemunho anónimo de uma adolescente que sofreu de bulimia:
"Estou agora a escrever isto para me libertar daquilo que me come por dentro e que me faz sentir mal a toda a hora, algo que nem os meus amigos mais próximos sabem, e isso é que tenho um distúrbio alimentar, bulimia.
Desde nova que dava por mim a não gostar de como era ou comparava me com a minha família e amigos e era maior que eles, não, mais gorda que eles. Comecei por fazer dietas com nutricionistas que resultavam mas depois caia sempre no erro de voltar a comer tudo o que me aparecia à frente e o meu progresso desaparecia todo.
Aos 13 anos, por volta da mesma altura que comecei a entrar em dietas, cai na teia dos distúrbios alimentares, pesquisei na internet o que me parecia a solução mais fácil para reparar o meu “erro” de comer demais ou comer o que não devia, e essa solução era vomitar, aprendi como o fazer na internet (sim porque a internet ensina como vomitar, como ser anoréctica, entre muitas mais coisas que não deveriam ser divulgadas) .
A partir daí esse pensamento de que podia comer e depois vomitar evitando o sentimento de culpa desenvolveu-se para sempre que comesse demasiado ou comesse comidas gordas virava-me para a minha solução. Comia demais e mal e sabia disso mas era como se não conseguisse controlar, a bulimia é como um bicho que vos entra na cabeça e permite que comam tudo, mas não sem depois vos encher de culpa e arrependimento e mandar-vos deitar tudo “fora”.
Sinto que a bulimia é o pior distúrbio alimentar que se pode ter, claro que anorexia causa mais danos e que são mais visíveis, mas e psicologicamente? A dor, a culpa, a decepção de semana após semana o número na balança não mudar? Sempre senti, apesar de ser um pensamento egoísta e insensível, que quem sofre de anorexia ao menos consegue o que um bulímico raramente consegue, e isso é a tão cobiçada perda de peso.
Porque no fundo, a bulimia não vos permite perder peso, qualquer pessoa, independentemente de ser gordo ou magro pode ter bulimia, pois no geral esta mantém o peso pois nunca é possível “deitar fora” tudo o que ingerirmos, no máximo chegamos a um ponto de encontro em que não emagrecemos mas também não engordamos.
E daí este distúrbio ser tão frustrante, sentimos que estamos a fazer dietas atrás de dietas, dias de ginásio, corridas etc e tudo em vão porque o peso mantém-se sempre o mesmo, e porquê? Porque o que falhamos em lembrar-nos é que no dia X comemos como se não houvesse amanhã e depois veio a culpa e fez-nos vomitar, no dia Y comemos tudo mas resistimos à culpa e não vomitámos e assim sucessivamente, parece-nos então que estamos há anos de dieta mas o peso não baixa, continuamos a olhar ao espelho e a não gostar do reflexo, a sentir-nos inseguros, e nunca nada parece mudar, já mudámos a dieta, os exercícios de ginásio, a nutricionista, quando na realidade quem tem de mudar somos nós, procurar ajuda para lutar contra este bicho que nos consome, que nos faz pensar na perda de peso a toda a hora, nas aulas, às refeições, ao deitar...
Mas querem saber o pior? O pior é que ninguém nota pelo que vocês estão a passar, ninguém sabe que estão mal ou infelizes, porque num segundo podem estar a vomitar como no segundo a seguir estão a sorrir como se nada se tivesse passado, e na hora a seguir? Estão outra vez a comer come se não soubessem o que se segue. Os outros não conseguem ver porque não se reflete no corpo, mas quem tem bulimia sabe o que se sofre e quão bem podemos esconder o que se passa, por isso tudo o que têm a fazer se estão nesta situação é pedir ajuda. Pedir ajuda aos pais, família, amigos, pedir que vos ajudem a ultrapassar isto, e a resolver o problema, mas saibam que dependem sempre de vocês e têm de ser vocês a querer mudar e recuperar.
Há já 4 anos que sofro deste distúrbio alimentar, no escuro sem ninguém saber, mas hoje após escrever este texto decidi que vou pedir ajuda, vou ultrapassar este meu problema e não vou deixar que me controle mais a vida."
Comentários
Enviar um comentário